Imaginemos, por um momento, o que poderia estar a acontecer-nos se não tivéssemos conseguido entrar para o euro. Olhemos para parceiros nossos na União Europeia, como a Hungria - que continua a debater-se com altos défices públicos -, ou para outros países, europeus ou não, como a Ucrânia, a Bielorrússia, a Argentina ou o Paquistão. O que têm todos eles em comum? Têm a quebra, brusca e catastrófica, do valor externo das respectivas divisas, que lhes esgota as reservas em dólares, em euros ou em ienes, e os obriga a pedir ajuda de emergência ao FMI. Não será plausível admitir, num cenário em que os activos de empresas e propriedades sofrem tombos sucessivos nas bolsas de valores à volta do mundo, que também nós, confinados ao nosso escudo, estaríamos a estender a mão a um resgate monetário extremo?
A dimensão do golpe que a economia portuguesa vai sofrer com esta crise crescente e sem precedentes nas nossas vidas ninguém a pode prever com rigor. A única coisa que vale a pena fazer - hoje, mais do que nunca - é fazer-lhe frente com as armas que temos à mão: garantir o aumento real do poder de compra das famílias, para manter o consumo a crescer; apoiar o investimento produtivo, tão inovador e aberto aos mercados internacionais, quanto o permita o engenho e a arte dos seus protagonistas; abrir novas oportunidades de negócio para os bens e os serviços exportáveis para países com grande potencial de crescimento imediato; e fazer tudo isto mantendo o bom nome das contas públicas do País.
Quanto mais crise, mais cabeça!
O maior sindicato da função pública convocou ontem uma manifestação nacional contra a proposta de actualização salarial de 2,9% apresentada esta semana pelo Governo. A coordenadora da Frente Comum alega a perda de poder de compra e o facto de o Governo subestimar sempre a inflação.
É verdade o que diz. Nove anos sucessivos de actualizações abaixo da inflação ditaram uma perda acumulada de poder de compra entre 7,5% e 11%. E nos últimos anos as previsões do Governo subestimaram sempre a inflação verificada.
Mas o que surpreende neste discurso sindical é que tanto poderia ter sido feito agora como há um ano. Mas muita coisa mudou entretanto. O mundo está à beira de uma das maiores crises económicas de sempre e a Frente Comum parece não ter dado por nada. E a menos graves das previsíveis consequências desta crise é o forte abrandamento da subida dos preços, pelo que, ao contrário de anos anteriores, a estimativa do Governo para a inflação pode até pecar por excesso. Mas mesmo que os funcionários voltem a perder dinheiro, não parece que, no contexto dramático que se avizinha, tal venha a ser notícia.
Fonte> Diário de Lisboa
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