O dia em que evaporaram 10 mil milhões da Bolsa de Lisboa


'Crash'. A Bolsa de Lisboa viveu ontem o dia mais negativo da história do PSI-20, com uma queda de 9,9%, reflectindo o sentimento de pânico que invadiu todas as praças europeias. A falta de liquidez da banca está a gerar uma falta confiança generalizada
Mais uma segunda-feira negra nos mercados bolsistas. Mais uma fuga em massa dos investidores ao risco, que culminou num verdadeiro crash bolsista na Europa. Nunca na história moderna dos índices europeus se assistiram a quedas tão pronunciadas numa só sessão, com desvalorizações entre 6% e 9%. A Bolsa de Lisboa foi das mais penalizadas, com o PSI-20 a registar a maior queda da sua história: -9,86%.

As acções mais afectadas pela fuga dos investidores - sobretudo, estrangeiros - foram as grandes empresas: a EDP caiu 16,4%, a Galp 13% e com quedas na casa dos 12% estiveram empresas como a Brisa, Jerónimo Martins ou a Altri. A banca também foi muito penalizada, com quedas de 7% a 9%.

Estas evoluções degradaram significativamente as grandes fortunas na bolsa. Entre as principais, destaque para as perdas de 531 milhões de euros sofridas nas participações detidas pelo Estado, através da Parpública ou CGD. Mas também para a deterioração de 85,1 milhões da posição de Belmiro de Azevedo no grupo Sonae, ou a perda de 452 milhões de Américo Amorim, através da posição na Galp (sem contar com a perda no espanhol Banco Popular).

"O mercado português está a sofrer pela sua reduzida dimensão. É o efeito gargalo de garrafa: quando toda a gente quer sair e há pouca liquidez, vende-se mais barato... e as quedas são maiores", explicou ao DN um corretor da Bolsa de Lisboa. Num só dia, "desapareceram" do mercado português 10 108 milhões de euros em capitalização bolsista, incluindo todas as acções, mesmo as que estão fora do índice PSI-20.

A queda de ontem culmina um período negativo que já ascende a uma perda anual, no PSI-20, de 46,5%. Uma desvalorização que já apaga os ganhos acumulados nos últimos dois anos. E que coloca o índice no seu valor mais baixo desde meados de 2004, traduzindo o desaparecimento de 66 mil milhões de euros do valor do mercado de acções português desde Janeiro, mais de um terço da riqueza produzida anualmente em Portugal (PIB). "Foi a capitulação do mercado. Há uma severa crise de confiança entre os investidores e esta queda traduz a aposta em revisões profundas em baixa dos lucros das empresas", sublinhou um outro analista.

Os investidores acreditam que a falta de liquidez que está a condicionar os bancos irá traduzir-se numa recessão económica de longa duração, já que as empresas e famílias estão sem acesso ao crédito. Um sinal desse temido abrandamento económico é a correcção acentuada do preço do petróleo (com a expectativa de uma menor procura mundial) e, em paralelo, a queda do euro (perante os sinais de degradação económica na Zona Euro).

"Os índices estão ao nível de 2004, ou seja, perdeu-se num ano aquilo que se acumulou nos últimos quatro. É dramático e grave e exige medidas concertadas das autoridades europeias", adiantou o mesmo especialista, apelando à intervenção do BCE.

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