Obama 'virou o jogo' nas pesquisas após a falência do Lehman Brothers.
Mas por que será que a intensificação da crise beneficiou os democratas?
Paul Krugman
Do New York Times
Talvez as pesquisas e o senso comum estejam redondamente equivocados, e John McCain obtenha uma vitória inesperada excepcional, uma "zebra". Mas, no momento, a eleição presidencial parece uma sólida vitória, talvez até uma goleada de Barack Obama; grandes conquistas democratas no Senado, possivelmente o suficiente para produzir uma maioria à prova de atrasos propositais; e grandes conquistas democratas também no congresso.
Seis semanas atrás, a corrida presidencial parecia empatada, McCain talvez um pouco na frente. A virada ocorreu no meio de setembro, coincidindo precisamente com a repentina intensificação da crise financeira após a falência do Lehman Brothers. Mas por que será que a crescente crise econômica e financeira funcionou tão bem para trazer vantagem aos democratas?
O candidato democrata à Casa Branca durante comício em Raleigh, Carolina do Norte, nesta quarta-feira (29)
Como uma pessoa que passou bastante tempo argumentando contra dogmas econômicos conservadores, eu gostaria de acreditar que as más notícias convenceram muitos americanos, de uma vez por todas, de que as opiniões econômicas da direita são tortas e de que as idéias progressivas são direitas. E tem mais. Hoje em dia, com até Alan Greenspan admitindo que estava errado em acreditar que a indústria financeira poderia se auto-regular, o discurso à la Reagan sobre a magia do mercado e os males da intervenção governamental soa ridículo.
Além disso, McCain parece incrivelmente incapaz de falar sobre economia como algo importante. Ele tentou apontar a culpa pela crise no seu ressentimento favorito, projetos especiais para distritos legisladores – o que faz com que os economistas cocem a cabeça, confusos. Imediatamente após a falência do Lehman, ele declarou que "as bases da nossa economia são sólidas", visivelmente sem saber que ecoava praticamente o discurso de Herbert Hoover após o crash de 1929.
Mas desconfio que a principal razão para a reviravolta drástica nas pesquisas de opinião seja algo menos concreto e mais paralelo do que o fato de os acontecimentos desacreditarem o fundamentalismo liberal. À medida que o cenário econômico se enturvou, eu diria que os americanos redescobriram a virtude da seriedade. E isso funcionou para a vantagem de Obama, porque seu oponente tem realizado uma campanha profundamente não-séria.
Considere os temas da campanha de McCain até agora. McCain nos lembra, várias e várias vezes, que ele é independente – mas o que isso significa? Sua independência parece ser definida como um traço de personalidade móvel, livre, em vez de estar amarrado a qualquer objeção específica da parte dele em relação à forma como o país tem sido governado nos últimos oito anos.
Inversamente, ele atacou Obama chamando-o de "celebridade", mas sem nenhuma explicação específica sobre o que há de errado com isso – simplesmente é fato que deveríamos odiar o pessoal de Hollywood.
E a escolha de Sarah Palin como candidata republicana à vice-presidência claramente não teve nenhuma relação com o conhecimento dela ou as posturas que adotou – tratava-se de quem ela era, ou parecia ser. Os americanos deveriam se identificar com uma mãe igualzinha a eles.
De certa forma, não podemos culpar a McCain por fazer campanha sobre temas banais – afinal, isso já funcionou no passado. Notavelmente, o presidente Bush só conseguiu chegar à Casa Branca em grande parte por causa da mídia, que em vez de focar nas propostas políticas dos candidatos focou nas suas figuras: Bush era aquela pessoa amigável com quem você gostaria de tomar uma cerveja, Al Gore era o durão sabe-tudo, e nem importava toda aquela discussão sobre impostos e previdência social. E convenhamos: há seis semanas, o foco de McCain no trivial parecia ser bastante benéfico.
Mas isso foi antes da probabilidade de uma segunda Grande Depressão na mente das pessoas.
A campanha de Obama não foi livre de equívocos – no começo, ela era cheia de euforia vazia. Mas os eleitores de Barack Obama vêem o quanto ele é sereno, calmo, inteligente e conhecedor, capaz de falar com coerência sobre a crise financeira de uma forma que McCain não consegue. E quando o mundo parece se despedaçar, você não apela para um amigo com quem você gosta de tomar cerveja, você recorre a alguém que realmente saiba como remediar a situação.
A resposta de McCain à diminuição das chances de ganhar a eleição tem sido essa: em vez de tentar argumentar que McCain realmente é mais preparado e qualificado para lidar com a crise econômica, a campanha tem feito de tudo para banalizar as coisas novamente. Obama é companheiro de radicais dos anos 60! Ele é socialista! Ele não ama a América! A julgar pelas pesquisas, parece que isso não está funcionando.
Será que a nova demanda do país por seriedade vai durar? Talvez não – você se lembra que o 11 de setembro deveria ter tirado o foco das banalidades? No momento, no entanto, os eleitores parecem estar focados em problemas reais. E isso é ruim para McCain e os conservadores em geral.
Paul Krugman, economista, é o ganhador do Nobel de Economia de 2008
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